Seven Mill Hill, Sexta-feira, 13 de agosto de 2004, 12:30
-Joey, precisamos conversar...
-Quem é você?
-Isso não importa agora, o importante é que precisamos conversar, a sós.
Nessas palavras, o misterioso homem olha diretamente para Sara e Felipe, mais como uma ordem que como um aviso ou um ameaça.
-Entendi. Vamos, Felipe.- disse Sara.
-Ok, vamos indo nessa.
-Tchau pra vocês dois.
-Tchau, Joey - disseram os dois em uníssono.
-Enfim, o que você queria mesmo, senhor?
-Oh, sim. Bem, espero, antes de mais nada, que meus trajes não o desagradem.
-De forma alguma, senhor - mentiu Joey.
Realmente, o homem era bastante desagradável. Usava uma túnica cinza com capuz, sem a manga esquerda, com a manga direita e o lado de baixo completamente rasgados. Seus cabelos, ou o que dava para ver deles debaixo daquele capuz, eram brancos. Daria a impressão de ser um fantasma, não fosse a pele levemente morena daquele homem. Fora isso, o que chamava a atenção era um estranho símbolo no peito do hábito, parecido com um Ankh (cruz egípcia com um “laço” por cima) dourado, com um Tao no centro do “laço”, e uma espada em forma de cruz embaixo.
- Ótimo. Precisamos de um local mais privado. Vamos à minha casa.
-E por que eu deveria confiar em você?
-Antes de morrer, seu pai disse que teria uma revelação importante, que não poderia esperar mais dois anos, não?
Aquela informação assustou Joey de tal forma que ele chegou a gaguejar:
-Co... Como você sabe disso?
-Esses dois anos acabaram, Joey, venha comigo. Lá te explicarei tudo, inclusive como eu sabia disso...
A “casa”, no caso, era um galpão perdido no meio do nada, quase na saída de Seven Mill Hill para Londres. Lá, ele tirou a túnica, revelando ser totalmente o oposto do imaginado por Joey. Usava um terno cinza, no mesmo tom de cinza do hábito, com os mesmos dois símbolos perto do coração. Seus cabelos eram realmente brancos. Tinha uma aparência jovial e cativante, ao contrário do que era de se esperar do seu cabelo. Não aparentava ter mais que trinta anos.
-Enfim, aqui estamos nós... Por onde começo?
-Como conheceu meu pai?
-Hmmm... Não. Não tem como começar por aí. Para tudo há seu tempo, jovem, portanto espere...
-Ok, então me diga o que ele queria me dizer antes de morrer.
-Bem, como dizer isso: Diretamente, te espantando; ou enrolando, porém te preparando?
-Fala logo!
-Bem... Você é um Anjo.
-O que?
-Tinha certeza que devia te enrolar. Bem, depois te digo com mais detalhes como um anjo como você está habitando a terra. Bem, acho que não me apresentei. Joey, eu sou Phillip Gross, amigo de longa data do seu pai e líder atual dos Anjos em terra.
-Como assim?
-Bem, a história, vamos à história: Há muito tempo, mais exatamente 204 anos atrás, um grupo de anjos, os chamados Anjos Humanos, decidiram vir à terra, para saber como era a vida por aqui, pura curiosidade mesmo. Seu líder, Rosh (cabeça ou líder em hebraico) resolveu que deveriam viver como todos os homens: Se casar, ter filhos, morrer... o que eles não imaginavam, é que seus filhos seriam anjos, assim como eles, e assim, teriam os mesmos poderes que eles.
-Então... Quer dizer que eu sou descendente de um desses anjos?
-De um não! Você é descendente do próprio Rosh, tanto por parte de pai quanto de mãe. E Rosh é, além de líder, o mais poderoso dos Anjos Humanos, o que te torna o Anjo mais poderoso que já pisou na face da Terra, com exceção do próprio Rosh. Portanto, é seu destino me suceder como líder dos anjos, ou spiritus, como chamam.
-Por que Spiritus?
-Simples: todos os líderes Anjos têm seus cargos definidos por nomes em latim
-Por quê?
-Meras convenções sociais...
Já era a segunda vez que convenções sociais o seguiam aquele dia, e ele achava isso uma chatice...
-Vão me chamar de spiritus também?
-Quando você for líder, sim.
-Não gosto de convenções sociais, e prefiro minha língua ao latim. Por isso, prefiro que me chamem,
pelo menos enquanto ainda não sou o líder, de Spirit. Agora, chame-me apenas de Spirit...
E estava montado o início da aventura de Spirit, o anjo que não aprendeu a voar.