25 de setembro de 2010

Cap. 2/Ep. 2 - O segredo de meu pai

Seven Mill Hill, Sexta-feira, 13 de agosto de 2004, 12:30

-Joey, precisamos conversar...

-Quem é você?

-Isso não importa agora, o importante é que precisamos conversar, a sós.

Nessas palavras, o misterioso homem olha diretamente para Sara e Felipe, mais como uma ordem que como um aviso ou um ameaça.

-Entendi. Vamos, Felipe.- disse Sara.

-Ok, vamos indo nessa.

-Tchau pra vocês dois.

-Tchau, Joey - disseram os dois em uníssono.

-Enfim, o que você queria mesmo, senhor?

-Oh, sim. Bem, espero, antes de mais nada, que meus trajes não o desagradem.

-De forma alguma, senhor - mentiu Joey.

Realmente, o homem era bastante desagradável. Usava uma túnica cinza com capuz, sem a manga esquerda, com a manga direita e o lado de baixo completamente rasgados. Seus cabelos, ou o que dava para ver deles debaixo daquele capuz, eram brancos. Daria a impressão de ser um fantasma, não fosse a pele levemente morena daquele homem. Fora isso, o que chamava a atenção era um estranho símbolo no peito do hábito, parecido com um Ankh (cruz egípcia com um “laço” por cima) dourado, com um Tao no centro do “laço”, e uma espada em forma de cruz embaixo.

- Ótimo. Precisamos de um local mais privado. Vamos à minha casa.

-E por que eu deveria confiar em você?

-Antes de morrer, seu pai disse que teria uma revelação importante, que não poderia esperar mais dois anos, não?

Aquela informação assustou Joey de tal forma que ele chegou a gaguejar:

-Co... Como você sabe disso?

-Esses dois anos acabaram, Joey, venha comigo. Lá te explicarei tudo, inclusive como eu sabia disso...

A “casa”, no caso, era um galpão perdido no meio do nada, quase na saída de Seven Mill Hill para Londres. Lá, ele tirou a túnica, revelando ser totalmente o oposto do imaginado por Joey. Usava um terno cinza, no mesmo tom de cinza do hábito, com os mesmos dois símbolos perto do coração. Seus cabelos eram realmente brancos. Tinha uma aparência jovial e cativante, ao contrário do que era de se esperar do seu cabelo. Não aparentava ter mais que trinta anos.

-Enfim, aqui estamos nós... Por onde começo?

-Como conheceu meu pai?

-Hmmm... Não. Não tem como começar por aí. Para tudo há seu tempo, jovem, portanto espere...

-Ok, então me diga o que ele queria me dizer antes de morrer.

-Bem, como dizer isso: Diretamente, te espantando; ou enrolando, porém te preparando?

-Fala logo!

-Bem... Você é um Anjo.

-O que?

-Tinha certeza que devia te enrolar. Bem, depois te digo com mais detalhes como um anjo como você está habitando a terra. Bem, acho que não me apresentei. Joey, eu sou Phillip Gross, amigo de longa data do seu pai e líder atual dos Anjos em terra.

-Como assim?

-Bem, a história, vamos à história: Há muito tempo, mais exatamente 204 anos atrás, um grupo de anjos, os chamados Anjos Humanos, decidiram vir à terra, para saber como era a vida por aqui, pura curiosidade mesmo. Seu líder, Rosh (cabeça ou líder em hebraico) resolveu que deveriam viver como todos os homens: Se casar, ter filhos, morrer... o que eles não imaginavam, é que seus filhos seriam anjos, assim como eles, e assim, teriam os mesmos poderes que eles.

-Então... Quer dizer que eu sou descendente de um desses anjos?

-De um não! Você é descendente do próprio Rosh, tanto por parte de pai quanto de mãe. E Rosh é, além de líder, o mais poderoso dos Anjos Humanos, o que te torna o Anjo mais poderoso que já pisou na face da Terra, com exceção do próprio Rosh. Portanto, é seu destino me suceder como líder dos anjos, ou spiritus, como chamam.

-Por que Spiritus?

-Simples: todos os líderes Anjos têm seus cargos definidos por nomes em latim

-Por quê?

-Meras convenções sociais...

Já era a segunda vez que convenções sociais o seguiam aquele dia, e ele achava isso uma chatice...

-Vão me chamar de spiritus também?

-Quando você for líder, sim.

-Não gosto de convenções sociais, e prefiro minha língua ao latim. Por isso, prefiro que me chamem, 
pelo menos enquanto ainda não sou o líder, de Spirit. Agora, chame-me apenas de Spirit...

E estava montado o início da aventura de Spirit, o anjo que não aprendeu a voar.

18 de setembro de 2010

Cap. 1/ Ep. 1 - TUDO COMO DE PRAXE

Seven Mill Hill, Sexta-feira, 13 de agosto de 2004, 06:30

Era um dia como outro qualquer. Pelo menos era o que Joey Landora, agora com 18 anos, pensava. Há dois anos, seu pai se fora em um acidente de carro, bem no dia de seu aniversário. Antes de morrer, seu pai havia dito que havia muitas revelações a serem feitas, que não foram feitas devido a sua morte.

Seu pai era um homem de negócios muito rico, que vivia em Londres desde que Joey se lembra. Era dono de uma grife de roupas muito famosa na Inglaterra toda, e também bastante cara. Apesar disso, Joey sempre morou em Seven Mill Hill com sua mãe, mas mesmo com a morte de seu pai, a empresa continuava no nome de Katherine, sustentando os dois. Moravam na única mansão da cidade e, até a morte de Hilbert, Joey estudava no melhor colégio da cidade. Depois do triste incidente, Joey se rebelou, sendo expulso de lá. De lá e de todos os colégios particulares onde estudara até então, se acomodando apenas no Saint-Sebastian, o melhor colégio público região. Lá, onde já estava a um fantástico recorde de 1 ano, tinha uma única amiga, Sara Houston, uma garota misteriosa, porém lindíssima, e com um recíproco e secreto amor por Joey. Ela tinha, além de Joey, outro amigo, o espanhol Felipe Correa, com quem Joey às vezes conversava, mas que não poderia ser chamado totalmente de “amigo”.

Aquele 13 de agosto, era, além de tudo, uma sexta-feira 13. Maldito dia para se nascer. Maldito dia para se fazer aniversário. Maldito dia para se viver. Maldito dia, afinal. Levantou pesadamente, como de praxe, colocou suas roupas, como de praxe, pegou a bolsa, desceu para a cozinha, nem olhou para o rosto da mãe, bebeu o café, comeu as torradas, os ovos, a maçã, se despediu da empregada (mas não da mãe), pegou o lanche, saiu e foi para a escola, tudo como de praxe, naquele dia que Joey pensou ser um dia comum. Entrou no carro, pensando, como sempre, o que seu pai iria lhe dizer se estivesse vivo. Teve uma leve lembrança de ele ter dito algo sobre não poder esperar mais dois anos, mas não sabia direito o que era. Os dois anos se passaram, e não vira nada.

Chegou no colégio, vendo Sara e Felipe conversando, como de praxe. Como de praxe, Sara deu seu bom dia:

-Tira esse boné, Joey!

Joey usava, desde que seu pai morreu, um boné preto virado para frente, para que ninguém pudesse ver seu rosto. Felipe usava um também, mas branco e virado para trás, deixando seu rosto à mostra. Como de praxe, perguntou a ela:

-Porque você só se incomoda com o meu boné, e não com o do espanhol ai?

-Porque o rosto dele, pelo menos, eu posso ver.

-Como se já não tivesse visto o meu rosto suficientes vezes!

-Eu nunca vi - retrucou Felipe.

Com algumas alterações, era isso que acontecia todo dia no pátio do Saint-Sebastian, alguns minutos antes da entrada dos alunos. Após algum silencio, Sara disse:

-Feliz aniversário, Joey.

-Oh, sim, é seu aniversário, né, Joey? - Disse Felipe.

-Sim, Felipe e não, Sara.

-Como assim? - Perguntou Sara

-Esse é um dia como outro qualquer, ora.

-Não é, não.

-O que tem de tão especial nesse dia?

-Hoje você fica mais velho.

-Eu fico mais velho a cada segundo, e não quando uma convenção social me diz que fiquei.

-Não é uma convenção social que o mundo dê uma volta inteira a cada 365,25 dias!

-Ok, desde que nasci, por 18 vezes o planeta girou, as formigas armazenaram alimento, eu comemorei, ou deveria comemorar, meu aniversário, e por 2 vezes isso aconteceu desde que meu pai morreu. É só. 

Não faz diferença na minha vida.

-Os 18 fazem. A partir de hoje, você pode dirigir, votar, ir preso, beber, herdar a empresa do seu pai...

-1º: Eu não quero a empresa do meu pai. 2º: Nos EUA, aos 16 eu já poderia dirigir. 3º: Só mais uma convenção social. Idade não define juízo.

-Tem razão, já fez 18 e não tem nenhum...

-O que você quis dizer com isso?

Nisso o sinal bate.

-Desculpe, bateu o sinal...

As discussões entre os dois eram sempre estranhas, e raramente Felipe participava, achava uma perda de tempo discutir como adultos de uma forma que chegava a ser infantil por assuntos tão inúteis.

Após a aula, os três saiam juntos, como de praxe, até que uma estranha figura chamou a atenção de Joey.

O homem olhava fixamente nos olhos dele, até que disse:

-Joey, precisamos conversar...

Aquilo, sem dúvida, não era de praxe.

Livro 1 - Revelação - Introdução

Aqui começa, estimados leitores, a história de Joey Landora. A maioria das revelações acontece aqui. Então preparem-se, coisas jamais imaginadas estão para acontecer, e a história de Joey, e quem sabe do mundo inteiro, está para ser mudada. Pois que comece!

12 de setembro de 2010

Cap. 0 - ANTES DO INÍCIO DE TUDO

Todas as histórias que se conta, de indestrutíveis e bondosos herois que lutavam contra o mal que assolaria o mundo, ou mesmo que já o assolava, são sempre iguais. Não digo que são copias umas das outras, mas que a base é sempre a mesma. Exatamente essa história de que o bem e o mal se confrontam, usando sempre dois “escolhidos”, que são bons se seu lado é o bem, e maus se seu lado é o mal. Essa, estimado leitor, não é uma historia comum de luta entre bem e mal. Tem, sim, seu lado clichê, mas tem algo a mais. Não se trata da história de um homem bom que, aos 11, 13, 15, 18 ou 21 anos (sempre as mesmas idades, nunca mudam...) se torna um heroi do bem. É a história de um garoto mau que decide entrar para o lado do bem por pura vingança de todo o sofrimento que lhe foi causado por aquilo que ele chama de “mau”. Basicamente, um garoto que faz a coisa certa pelo motivo errado. Bem melhor que heróis perfeitos que, como os imperfeitos, não existem.

Tudo isso tem um início de uma forma muito simples, em um13 de agosto bastante comum. Nessa data, Joey Landora fazia 18 anos (as idades, ah, as idades...) na fictícia cidade de Seven Mill Hill, Inglaterra (sim, fictícia, pois toda essa historia, como dito antes, existe tanto quanto as histórias de heróis perfeitos). Faziam, também, 2 anos que seu pai, Hilbert Landora, morrera em um acidente de carro, causado por um motorista bêbado, enquanto ia junto com seu irmão, tio de Joey, à festa de aniversário deste. Desde então, Joey e sua mãe, Katherine, não se entendem. Para Joey, aquele que seria um dia como outro qualquer, estava prestes a se tornar um dia especial, o mais especial de toda a sua vida...