18 de setembro de 2010

Cap. 1/ Ep. 1 - TUDO COMO DE PRAXE

Seven Mill Hill, Sexta-feira, 13 de agosto de 2004, 06:30

Era um dia como outro qualquer. Pelo menos era o que Joey Landora, agora com 18 anos, pensava. Há dois anos, seu pai se fora em um acidente de carro, bem no dia de seu aniversário. Antes de morrer, seu pai havia dito que havia muitas revelações a serem feitas, que não foram feitas devido a sua morte.

Seu pai era um homem de negócios muito rico, que vivia em Londres desde que Joey se lembra. Era dono de uma grife de roupas muito famosa na Inglaterra toda, e também bastante cara. Apesar disso, Joey sempre morou em Seven Mill Hill com sua mãe, mas mesmo com a morte de seu pai, a empresa continuava no nome de Katherine, sustentando os dois. Moravam na única mansão da cidade e, até a morte de Hilbert, Joey estudava no melhor colégio da cidade. Depois do triste incidente, Joey se rebelou, sendo expulso de lá. De lá e de todos os colégios particulares onde estudara até então, se acomodando apenas no Saint-Sebastian, o melhor colégio público região. Lá, onde já estava a um fantástico recorde de 1 ano, tinha uma única amiga, Sara Houston, uma garota misteriosa, porém lindíssima, e com um recíproco e secreto amor por Joey. Ela tinha, além de Joey, outro amigo, o espanhol Felipe Correa, com quem Joey às vezes conversava, mas que não poderia ser chamado totalmente de “amigo”.

Aquele 13 de agosto, era, além de tudo, uma sexta-feira 13. Maldito dia para se nascer. Maldito dia para se fazer aniversário. Maldito dia para se viver. Maldito dia, afinal. Levantou pesadamente, como de praxe, colocou suas roupas, como de praxe, pegou a bolsa, desceu para a cozinha, nem olhou para o rosto da mãe, bebeu o café, comeu as torradas, os ovos, a maçã, se despediu da empregada (mas não da mãe), pegou o lanche, saiu e foi para a escola, tudo como de praxe, naquele dia que Joey pensou ser um dia comum. Entrou no carro, pensando, como sempre, o que seu pai iria lhe dizer se estivesse vivo. Teve uma leve lembrança de ele ter dito algo sobre não poder esperar mais dois anos, mas não sabia direito o que era. Os dois anos se passaram, e não vira nada.

Chegou no colégio, vendo Sara e Felipe conversando, como de praxe. Como de praxe, Sara deu seu bom dia:

-Tira esse boné, Joey!

Joey usava, desde que seu pai morreu, um boné preto virado para frente, para que ninguém pudesse ver seu rosto. Felipe usava um também, mas branco e virado para trás, deixando seu rosto à mostra. Como de praxe, perguntou a ela:

-Porque você só se incomoda com o meu boné, e não com o do espanhol ai?

-Porque o rosto dele, pelo menos, eu posso ver.

-Como se já não tivesse visto o meu rosto suficientes vezes!

-Eu nunca vi - retrucou Felipe.

Com algumas alterações, era isso que acontecia todo dia no pátio do Saint-Sebastian, alguns minutos antes da entrada dos alunos. Após algum silencio, Sara disse:

-Feliz aniversário, Joey.

-Oh, sim, é seu aniversário, né, Joey? - Disse Felipe.

-Sim, Felipe e não, Sara.

-Como assim? - Perguntou Sara

-Esse é um dia como outro qualquer, ora.

-Não é, não.

-O que tem de tão especial nesse dia?

-Hoje você fica mais velho.

-Eu fico mais velho a cada segundo, e não quando uma convenção social me diz que fiquei.

-Não é uma convenção social que o mundo dê uma volta inteira a cada 365,25 dias!

-Ok, desde que nasci, por 18 vezes o planeta girou, as formigas armazenaram alimento, eu comemorei, ou deveria comemorar, meu aniversário, e por 2 vezes isso aconteceu desde que meu pai morreu. É só. 

Não faz diferença na minha vida.

-Os 18 fazem. A partir de hoje, você pode dirigir, votar, ir preso, beber, herdar a empresa do seu pai...

-1º: Eu não quero a empresa do meu pai. 2º: Nos EUA, aos 16 eu já poderia dirigir. 3º: Só mais uma convenção social. Idade não define juízo.

-Tem razão, já fez 18 e não tem nenhum...

-O que você quis dizer com isso?

Nisso o sinal bate.

-Desculpe, bateu o sinal...

As discussões entre os dois eram sempre estranhas, e raramente Felipe participava, achava uma perda de tempo discutir como adultos de uma forma que chegava a ser infantil por assuntos tão inúteis.

Após a aula, os três saiam juntos, como de praxe, até que uma estranha figura chamou a atenção de Joey.

O homem olhava fixamente nos olhos dele, até que disse:

-Joey, precisamos conversar...

Aquilo, sem dúvida, não era de praxe.

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